com a palavra

Criador do Juvenart relembra sua passagem por bandas de rock santa-mariense


Fotos: Arquivo Pessoal

Arion Helder Pilla é um daqueles santa-marienses com muita história para contar. O funcionário público federal, assistente de administração na UFSM, chegou a defender, no passado, a Seleção Brasileira de Handebol na Itália. Cantor de rock, passou por bandas como Alto Rizo e Doce Veneno. Em sua vertente tradicionalista, criou um dos concursos estaduais de danças mais tradicionais do Estado, o Juvenart, que ocorre em Santa Maria.

Pai de Lucca, 27, e Pedro, 2, é casado com Camila dos Reis, 41. Aos 55 anos, ele conta ao Diário um resumo dessa trajetória

Diário - Quais as lembranças mais marcantes da sua infância?
Arion Helder Pilla
- Eu gosto de acreditar que a infância é a melhor parte no filme de nossas vidas. Da minha certamente é. Meus pais trabalhavam de sol a sol, e eu, quando não estava na escola, estava com meus avós maternos: Henriqueta e Vicente. Quando entrei na escola, aos 7 anos, em 1971, já estava alfabetizado. Meu avô dedicava horas do tempo dele para ensinar-me a ler, a escrever, e a fazer contas. Meu avô Vicente é destas pessoas inesquecíveis, cujo exemplo se leva para vida toda. A vida de meus pais não era nada fácil naquela época. Meu pai Arlindo Geraldo Pilla, filhos de agricultores, trabalhava de motorista de ônibus, saia de casa antes do sol nascer e voltava quando já era noite. Minha mãe, Dona Ione de Oliveira Pilla, era secretária na antiga Sanrig.


Arion com a mãe, Ione Pilla

Diário - Quais as principais lembranças da época do rock? Passou por quais bandas?
Arion
- Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones foi a primeira música que cantei, a capela, em cima de uma cadeira, na cozinha de meus pais, para uma seleta plateia formada por meu pai, minha mãe, e meus avós maternos. Isso lá por 1968. Comecei como cantor do Avenida Principal em 1985. Nós éramos diferentes. Usávamos blazeres coloridos, cantávamos músicas românticas e eu, além de cantar, dançava muito no palco (pelo menos eu achava que agradava). O fato é que nós fizemos muita coisa legal, até mudarmos tudo, e lançarmos a Alto Rizo. Os palcos de São Gabriel, Rosário, Alegrete, enfim, de toda a fronteira, sempre nos receberam lotados. Tínhamos a chancela da recém chegada Atlântida FM, que tocava nossas músicas e promovia a festas, com a banda tocando ao vivo. Sempre dava certo. Nós não ganhávamos dinheiro com aquilo, mas nos divertíamos muito. Muito mesmo. Um dia nós cansamos e decidimos que não faríamos mais aquilo. Fomos cada um para o seu lado. Mas meu telefone tocou dias depois. Era o Marcelo Freitas, baterista da Doce Veneno. Eles queriam um cantor. Na Doce, fiz as minhas melhores músicas. Ou pelo menos aquelas que mais gosto. Gravamos o CD ELO 1, a primeira coletânea com bandas independentes de que se tem notícia. A música Eu não Vou Ficar, ganhou o Circuito de Rock da RBS TV. Nós éramos jovens, curtíamos as mesmas festas, bebíamos nos mesmos copos, fazíamos nossas músicas, e divertíamos as pessoas. Foi legal ter participado daquilo. Tenho saudade de bons amigos que o rock me deu.

Diário - O Juvenart é um dos principais eventos tradicionalistas do Estado. Qual foi a sua participação na criação do evento e, desde então, como vem sendo atuar na parte da organização?
Arion - Janeiro de 2002, talvez fevereiro, não lembro bem. Concurso de danças. Disso eu entendia um pouco. Isso, sim, poderia ser uma boa. Mas outro? Já existiam tantos. Mas para os juvenis não tinha nada. Sim, podíamos fazer um evento de danças, só de dança, e só para os juvenis. E assim foi. Expliquei para o Lucca  (seu filho, com ele na foto à direita) que não podia ser mirim, pois já tinha. E comecei a escrever o tal projeto do concurso. Lá estava eu na mesa da cozinha, escrevendo à mão em várias folhas de papel pardo, enquanto a mãe do Lucca dava pitacos (a maioria deles foi acatado, e sou muito grato a ela por tudo o que fez pelo evento. O Juvenart chegou onde chegou muito por causa das ideias e do trabalho de Estefânia Adams). Outra coisa importante a lembrar é que muitas coisas que compuseram o primeiro projeto e que permanecem até hoje, como os dois palcos simultâneos por exemplo, e o rigor com cumprimento de horários, foram aprendidos em Passo Fundo, no Festival Internacional de Folclore, onde eu havia tido o privilégio de cantar. Muito mais poderia ser contado. Este evento, tão carinhosamente construído para meu filho Lucca, hoje pertence a todos, é feito por todos e para todos.


Selfie com a equipe de trabalho do Juvenart

Diário - Quais são as maiores paixões de sua vida?
Arion - Meus filhos Lucca e Pedro, minha esposa Camila (com ele e Pedro, na foto ao lado), e minha mãe Ione. Lucca é o responsável pela criação do JuvEnart, por algumas canções que escrevi, e por alguns dos momentos mais felizes que vivi. O Pedro acabou de chegar. Me pegou muito mais preparado. Consigo ser para o Pedro o pai que jamais conseguiria ser para o Lucca. Aos 55 anos, estou tendo o privilégio de ver esse menino crescer no meu colo, chamando por mim, se protegendo em mim, dormindo comigo. Sou muito grato por mais esta bênção que a vida me deu. A Camila me devolveu algo que a vida havia me roubado com o passar dos anos. O amor próprio. Sentir-se amado e desejado aos 45 anos era algo que não estava mais em meu roteiro. Mas, enfim, ela chegou, não pediu, se instalou. Me devolveu a dignidade, me fez querer mais, me fez querer ser melhor, e, finalmente, me deu o Pedro. Espero que nossas promessas nunca sejam quebradas, e possamos ir até o final, juntos, como combinamos. Tudo o que contei aqui, só foi possível porque sempre, em todos os momentos, nos bons e nos ruins, nos difíceis e nos fáceis, nos tristes e nos alegres, sempre pude contar com dona Ione Pilla. Não posso expressar aqui a gratidão nem o orgulho que tenho em ser filho dela. Posso apenas dizer: obrigado, mãe.

Diário - Como é a sua relação com Santa Maria?
Arion
- Eu nasci na Rua Farrapos, 190. Entre a Medianeira e a Presidente, ao lado de um lugar chamado Mil e Uma Noites. Brinquei na Locomotiva quando criança. Joguei bola nas quadras da presidente. Eu frequentava o Minuano de Camobi, e Camobi era o nome da escola que eu estudava, antes de ser Margarida Lopes. Eu vi os quilômetros de arrancada na Faixa Nova, e assisti a TV Imembuí. Eu estava na Baixada, com camisa do Grêmio, quando ganhamos de 3 a 0 do Vasco, e vi nosso Inter-SM ser campeão do Interior em 1981. Eu vi o Viaduto Evandro Behr ser construído, a (Rua) 24 Horas vir, e ir. Mas, antes disso, fui no banco de trás do carro de meus pais na Farmácia Galeno, na primeira quadra da Bozano, onde anos depois vi ser construído o Calçadão. Eu fui de trem para Porto Alegre muitas vezes, e quando entrei no campus da UFSM pela primeira vez, não tinha a Avenida Roraima, nem ponte, nem muitas outras coisas.Eu cresci junto com Santa Maria. Faz 55 anos que estamos juntos. Sou santa-mariense com muito orgulho. 

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